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Relato de Paciente

   

Relatos

 

Era um dia de março de 2017 quando nos conhecemos. Dia 2 de março, para ser exato. Conversamos bastante e foi ótimo. Não lembro bem se foi no dia seguinte que nos encontramos para jantar. Fui à sua casa e você, loira, estava me esperando na portaria do condomínio. Eu cheguei de táxi, e naquele clima de quem já se conhecia pela conversa, mas nunca havia se visto pessoalmente, confesso que gostei. Não, gostei muito.

Você entrou, nos cumprimentamos e fomos para o restaurante. A caminho, a conversa fluía, com aquele tom de quem ainda está se conhecendo, apesar de tudo que já havíamos falado por telefone. Jantamos, e foi muito bom.

No dia seguinte, você foi ao meu hotel, e fizemos sexo pela primeira vez. Foi maravilhoso, indescritível. A partir daí, tudo foi acontecendo perfeitamente, entre alegrias e prazeres. Nossos encontros eram sempre momentos únicos, que não davam vontade de terminar. Namoramos bastante, beijamos muito, e o que eu mais adorava era dormir juntos e abraçados. Adorava me deitar com você, acordar de madrugada e te ver ao meu lado, te abraçar, te beijar. Sentir seu cheiro e o calor do seu corpo. De manhã, ver você acordar preguiçosa e gostosa. Tudo isso me fazia feliz.

Você foi várias vezes ao meu apartamento em São Paulo. Lá vivíamos momentos inesquecíveis, nosso lugar de liberdade, nossa chance de viver um para o outro. Desde o início, mantivemos contato diário, normalmente várias vezes ao dia. Chamadas de voz, vídeo, mensagens de texto e fotos.

Mas nem tudo é perfeito, nada é como idealizamos e sonhamos.

Um dia estávamos em um hotel na cidade em que nos conhecemos. Saímos, jantamos e aproveitamos bem, tudo estava perfeito. Ao chegarmos ao hotel, porém, tivemos uma discussão e você foi dormir em casa — você morava na cidade nessa época. Dormi sozinho, sentindo sua falta, ainda mais por saber que você estava perto de mim na cidade, e longe da minha companhia. Foi uma noite ruim, não consegui dormir bem.

Estávamos terminados. No dia seguinte, você me ligou e disse que viria ao hotel conversar comigo.

Eu te esperei em uma mesa externa do restaurante, e quando você chegou, disse que queria ficar comigo. A conversa foi evoluindo e, de repente, você me contou algo que me chocou: estava morando com um cara há mais de um ano, e a vida de vocês era como a de casados. E me perguntou se eu não havia notado isso nas nossas conversas diárias.

Fiquei sem reação. Não podia imaginar que por trás de todas as nossas conversas, brincadeiras e relatos do dia a dia, você pudesse ter uma vida dupla. Minha primeira reação foi te mandar embora, o que fiz mais de uma vez. Você, no entanto, insistiu que queria ficar comigo e que seu companheiro havia terminado quando viu nossas mensagens no seu celular.

Como eu estava apaixonado, concordei em continuarmos juntos. Esse fato foi um vento contrário no nosso relacionamento, mas mantivemos o contato. E assim foi por um tempo, com a mesma dinâmica de ligações, vídeos, fotos e viagens para compartilharmos momentos no hotel.

Pouco tempo depois, outro fato aconteceu. Provavelmente bêbada ou drogada, você me enviou uma foto beijando um cara bem mais velho e aparentemente brega, com calça de tecido, daquelas que só pessoas mais velhas usam. Fiquei chocado com a foto e com sua atitude de querer me mostrar aquilo, ainda mais por ser um cara velho e você parecer tão feliz beijando-o.

Terminei com você na mesma hora e disse que não queria mais te ver.

Mais tarde, você me ligou e disse que queria me ver e que viria para a minha cidade. Eu disse que não queria nada e que você não viesse. Mas, estupidamente, concordei.

Fui te buscar na rodoviária e fomos para o melhor hotel da cidade. Discutimos e, no final, fizemos as pazes. Foi gostoso, aproveitamos bastante. A confiança, entretanto, estava abalada. Mas eu te amava muito, era apaixonado, e isso me fazia insistir em situações em que, numa condição normal, uma pessoa não deveria ceder. Após os acontecimentos atuais, chego a supor que você continua ou continuou com esse cara.

Tudo correu bem por um tempo. Um dia, você foi passar a semana no meu apartamento em São Paulo. Chegou e ficamos bem. À noite, você discutiu comigo por um assunto banal, relacionado a uma rede social. Cancelei a rede e ficamos discutindo. Pouco depois, você tomou banho e saiu, sem me dizer para onde ia. Fiquei sozinho em casa como um bobo. Você chegou tarde da madrugada. Cheguei a cogitar sair e dormir em um hotel, te deixando na rua, já que você não tinha chave e só entraria com minha autorização. Pensei muito, mas me retive. Quando chegou, disse que havia ido a um bar perto dali. Eu conheço o lugar, é legal, mas não para uma mulher sozinha. Esse fato nunca me saiu da cabeça. Analisando hoje, parece óbvio: você estava à procura de um homem para passar a noite, provavelmente com um pagamento.

A propósito, outro fato sempre me intrigou. Desde o início, conversamos bastante sobre investimentos. Você me parecia ter um conhecimento acima do básico, que havia feito cursos, e eu, sem muita experiência, ouvia seus comentários e conselhos. Você sempre parecia tão segura do que falava que avancei nesse campo. Fiz day trade, ganhei e perdi. Entrei no mercado de ações, sempre com empresas sólidas. Posso dizer que praticamente zerei meus ganhos ou até mesmo perdi dinheiro. Ou seja, seus conselhos não me trouxeram nada de positivo.

Pois bem, após essa introdução financeira, trago a minha dúvida. Você não vem de família de posses, e seu padrão de vida não levava a crer que tivesse recursos além do básico. Nessas conversas, você me relatava ter R$100k ou próximo a isso investidos. De onde vinha esse dinheiro? Nunca te perguntei, mas a curiosidade me ficou. De onde uma pessoa que não trabalha e cuja família não tem condições pode ter conseguido dinheiro para investir? Essa é uma dúvida que eu tenho, e não quero expor aqui a origem que imagino e que faria todo o sentido.

Com o tempo, após sua formatura, você conseguiu um trabalho em outra cidade, bem distante da sua família. Eu te admirei pela coragem e disposição de encarar o desafio, começando uma vida longe de todos que conhecia. Te apoiei. Comprei sua passagem aérea, paguei hotel para você por dois meses, para que pudesse focar apenas na sua adaptação. Isso certamente te ajudou a superar o primeiro obstáculo. Durante o tempo em que trabalhou lá, sempre comprei suas passagens aéreas de volta para casa e retorno, para te dar a segurança e conforto que eu achava que você merecia.

Sua adaptação no trabalho foi rápida. Na vida social, porém, parece que foi um pouco mais difícil. E nós sempre conversando, eu procurando te dar suporte para superar os obstáculos.

Você nunca me falou, mas sei que se relacionou com um parente de uma colega de trabalho. O namoro não foi adiante ou durou pouco. Só sei disso por fotos e observação. E você nunca me disse nada sobre isso.

Um fato mais marcante ocorreu com a família dessa colega de trabalho. Você frequentava a casa deles e foi daí que se iniciou o namoro com o rapaz. No entanto, uma noite você me mandou mensagem dizendo que estava na casa deles em um churrasco e que o marido da sua amiga se ofereceu para te levar para casa. Segundo você, no caminho ele foi para o banco traseiro e tirou a roupa, tentando te assediar. Você disse que se esquivou e negou que ele te tocasse.

Fiquei preocupado e irritado, e te disse para falar com sua amiga. Um ou dois dias depois, você disse que falou com ela, e a reação foi passiva. Ela não demonstrou muita preocupação e o relacionamento deles não foi abalado. Um pouco estranho, ainda mais quando o marido dela é uma pessoa sem grandes perspectivas estéticas, pessoais e financeiras. E após esse fato, você ainda frequentou a casa deles algumas vezes. Cheguei a te dizer que, ao que me parecia, ela estava interessada em que você participasse do casal, em uma relação extraconjugal. Você não argumentou muito.

Após o nosso rompimento, comecei a juntar as peças desse quebra-cabeça. Está nítido que você tinha um relacionamento com o marido dela e não queria mais continuar. Não acho razoável que uma pessoa do seu círculo de relacionamento a esse nível te assediasse dessa maneira. Então, para mim, sua reação é clara, assim como o fato de você nem ter comentado com sua amiga, porque já era um relacionamento que você e ele tinham.

Esse fato, aliás, foi um dos motivos para você querer voltar para sua cidade. Ficou sem ambiente para continuar a se relacionar com seus colegas de trabalho, e isso te dificultou se relacionar com outras pessoas, o que poderia ter viabilizado sua permanência.

Sua história sobre montar um negócio próximo à sua cidade me pareceu bem interessante no início. Te dei muito incentivo. Mas a conversa com seu primo sempre me pareceu muito distante e sem sentido. E você não demonstrava tanto empenho nisso, ou talvez confiança de que pudesse funcionar. Te apoiei e acreditei que seria uma oportunidade de começar já com algum suporte local, de alguém que já tem uma estrutura na área. E sempre que eu te falava para conversar com ele, você desviava do assunto, dizendo que era difícil de encontrá-lo. Achei isso estranho, mas não interferi. Aliás, nunca interferi em nenhum assunto da sua vida diretamente, apenas apoiei quando possível.

Agora vejo que havia outro motivo, além de todos que já mencionei. Você queria voltar também porque tinha alguém te esperando, ou pelo menos, uma pessoa em seu alvo. E você iria tentar essa aproximação.

Um fato que devo mencionar é que eu nunca te impedi de viver sua vida com outra pessoa. Aliás, já te falei que não ficaríamos juntos por causa da nossa diferença de idade e por eu não ver viabilidade de você entrar em um relacionamento mais duradouro nessas circunstâncias. E também te disse, desde o primeiro contato por telefone, sobre minha situação de relacionamento. Então, da minha parte, não havia nada escondido. A única atitude sua que eu sempre esperei, e te disse isso várias vezes, era que me contasse se estava com outra pessoa, e nós nos afastaríamos. E isso você nunca cumpriu.

De todas as vezes em que você se relacionou com outra pessoa durante nosso relacionamento, nunca ouvi de você esse relato. Listei aqui apenas as situações que pude presenciar ou deduzir das circunstâncias. Não me espantaria saber de outros relacionamentos seus que eu nem tive conhecimento ou suspeita. Na verdade, é bem provável que existiram. E eu reflito agora, o que foi verdade e o que foi mentira esse tempo todo? Quem mente não o faz uma única vez. A falta de respeito e consideração são o que mais incomodam e machucam. Imagino quanta história obscura deve haver na tua vida. Não deve ser pouca. E a carinha de santa que me enganava.

E os últimos acontecimentos. Quando você viajou no final de semana em julho e ficou em um Airbnb, te liguei domingo pela manhã e você não atendeu. Depois viajou e pedi para me mandar fotos do biquini e do passeio. Você não mandou nada, nem mensagem. E te disse que iria te encontrar na semana seguinte. Você reagiu com desânimo e eu percebi o que estava acontecendo. Eu paguei a hospedagem e você levou um homem para dormir com você, sob as minhas custas. E não me disse nada que estava com outra pessoa.

Te custeei diversos passeios e viagens, inclusive com a família. As pessoas da tua família não têm culpa de você ser o que é e sempre fiz isso com a intenção de que vocês aproveitassem bons momentos. Te custeei tratamentos de saúde, cirurgia e conforto financeiro. Não te cobrei e nem estou fazendo isso agora. Sempre fiz para o teu bem e de coração. Felizmente não investi em outros bens que você queria e que eu estava prestes a fazer, como um carro e depósito para tua reserva. Certamente eu teria me arrependido muito.

E quando mais precisei de você, isso acontece.

Sinto falta das conversas, das piadas, de te ver trocando de roupa de manhã pela câmera, tirar fotos tuas de todas as maneiras, te beijar, dormir com você, fazer sexo. Os momentos que aconteceram me marcaram profundamente e vou levar comigo. Fui apaixonado por você por muito tempo, iniciando naquele primeiro dia que nos vimos, e esse sentimento foi crescendo e ficando mais forte. E eu se sabia ou desconfiava, relevava as mentiras tuas. Talvez a distância tenha impedido que os problemas afetassem esse sentimento, e a imaginação criou essa paixão quase platônica. Quando se perde o apego emocional por alguém, percebe-se o quanto essa pessoa é comum, e a gente descobre que quem a tornava extraordinária era apenas a nossa própria mente.

Te amei. Muito. Todo o tempo que vivemos juntos.

Não nos veremos mais. Não conversaremos mais. Não vou tirar mais fotos de você para a minha coleção enorme. Não me interessa mais o que acontece na tua vida. Não torço mais por você.

E, por mais que as opções de vida e o amor sejam substituíveis, hoje encontro satisfação em outras coisas, como a redução das minhas despesas que tinha com você e a segurança que o dinheiro me traz.

Me livrei dessa.

Não te desejo nada.

Esse é o sentimento hoje.

 
 

* Esse relato e imagem é uma ficção e não corresponde a fatos reais

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